O músico Stefan Salej Junior, a publicitária Jaqueline Mourão, e o escritor Guilherme Azevedo vivem em países diferentes. Mesmo distantes milhares de quilômetros um do outro têm algo em comum. Além de serem brasileiros, escolheram a liberdade como a base da profissão. Como autônomos, se inserem num mercado de trabalho bem amplo, fora e dentro do Brasil.
Segundo a Confederação Nacional das Profissões Liberais (CNPL), existem mais de 10 milhões de profissionais atuando com autonomia no país. Boa parte, com formação técnica ou superior. Stefan é um deles. Deixou o Brasil no ano passado e foi morar em Londres, quando terminou o curso de Comunicação Social. Escolher quando e onde trabalhar é algo essencial para o jovem, de 24 anos. “É muito simples: quem não tem emprego cria o próprio serviço. Como músico, faço o que quero, sem mandões ou rédeas”, salienta.
Pela visibilidade
Com dupla cidadania, eslovena e brasileira, Stefan tem a liberdade de transitar e trabalhar na Europa, fator que beneficia seu estilo de vida. Em Londres, ele usufrui de um serviço que ajuda desempregados a encontrarem trabalho temporário ou fixo. Os Job Centers são uma mão na roda para quem, como o músico, aceita o desafio de ser um trabalhador do mundo e mundo afora. O músico ganha cerca de R$ 500 por show, mas para sobreviver da arte seriam necessários quatro por semana. Porém, essa não é a realidade de Stefan, pelo menos por enquanto.
Por isso, quando não há apresentações com sua banda The Colourblinds, ele vende alimentos e bebidas em estádios na capital inglesa. Mas os shows são a principal motivação de Stefan em Londres e, por eles, o músico muitas vezes abre mão do que fatura por exibição, aceitando convites para participar de festivais gratuitos que podem dar visibilidade à carreira.
Autocontrole e gestão
Tornar-se um trabalhador livre, com autonomia e liberdade para exercer suas habilidades, exige muita disciplina. Coordenadora do Programa de Orientação de Carreiras (Procar), da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) na Universidade de São Paulo (USP), a psicóloga e doutora em Administração Tânia Casado afirma que os autônomos precisam ter um autocontrole muito grande para gerirem de forma eficaz o próprio trabalho.
Com a evolução dos modelos de gestão organizacional, cresce o número de profissões que rompem com carreiras tradicionalmente concebidas e definidas pelas empresas. São as chamadas carreiras sem fronteiras que, segundo Tânia, se caracterizam pela flexibilidade e pelo aprendizado constante, gerando para os trabalhadores novas competências.
Carreiras sem fronteiras, atesta a psicóloga, contribuem para que sejam estabelecidos novos relacionamentos entre os profissionais e as organizações. “O mercado está mais exigente e há uma motivação por oportunidades de trabalho que permitam aos funcionários expressar todo o seu potencial”, esclarece Tânia.
Investimento na formação
Foi o que aprendeu bem cedo a mineira Jaqueline Mourão, que optou por assumir o controle da profissão, não mantendo contratos fixos quando ainda estava na faculdade. Ela concorda que esse estilo de vida requer do profissional excelência no fazer. Jaqueline se mudou para Portugal porque foi aprovada em um mestrado no Iade – Creative University (Instituto de Arte e Decoração), em Lisboa. Desembolsou R$ 2,3 mil, legalizou sua situação no país e começou a trabalhar em eventos e como freelancer em projetos de comunicação.
Jaqueline salienta que, para os publicitários brasileiros, o mercado português é bem aberto, porque somos reconhecidos como um povo criativo. Ela aproveita dessa “boa fama” para procurar por oportunidades que garantam a manutenção da sua forma de trabalho.
Apesar de serem livres para escolher trabalhar quando e onde quiserem, esses trabalhadores têm que driblar muitas dificuldades, como, por exemplo, se no final do mês terão ou não dinheiro suficiente para quitar os compromissos.
Pagando as contas
O escritor paulista Guilherme Azevedo, 39 anos, não se limita apenas às suas áreas de formação, Letras e Jornalismo. Ele é mais um dos profissionais sem fronteiras e resolveu ampliar os horizontes da carreira, mas com consciência sobre a importância de conciliar a liberdade com o profissionalismo.
Trabalhando com revisões de textos para uma agência de propaganda, Guilherme também faz reportagens como freelancer, dá aulas e palestras sobre redação, é editor de um site e ainda escreve livros, como sua mais recente publicação, “Propaganda Popular Brasileira”, lançada em 2010.
A versatilidade e a ousadia do autor possibilitam a superação das dificuldades. “A maior delas é pagar as contas”, comenta Guilherme, que recebe até R$ 5 mil reais por mês, somando o que ganha em todos os trabalhos. Ele acredita ser essencial saber gerir bem a carreira para obter sucesso. “A rentabilidade vem do talento e inteligência também administrativa”, atesta
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